Ciclo vicioso

2h de uma sexta-feira em meio a uma porção de choro e insônia. As lágrimas frias em meio ao meu rosto quente de de tanto chorar, escorrem a horas e as letras do papel amarelado vão se tornando um borrão aos meus olhos. Essas fraquezas humanas que corroem. Um monte de mimimi na tentativa de expressar pouco sentimento, não que eu sinta pouco, eu só não consigo expressar muito. Como solucionar um problema, que não depende só da gente? Minha mãe diria “aprenda a se amar primeiro pra depois esperar o amor dos outros”. Mas ás vezes parece um ciclo vicioso, como o caso do ovo e da galinha, que as pessoas se questionam qual veio primeiro. Será que eu preciso sentir-me amada para também amar-me ou eu tenho que me amar para os outros me amarem? Mas é difícil me sentir amada com as mensagens negativas em que eu capto das pessoas todos os dias. Nas entrelinhas elas me mostram como eu sou um lixo, feia em ambos os sentidos e não faço falta pra ninguém. Eu não sou a melhor aluna, não sou a melhor amiga de ninguém, que me perdoem os meus pais que tentam me convencer que tanto eu quanto a minha irmã são importantes pra eles, mas eu não consigo me sentir amada da mesma forma. Eu falo diferença na vida de alguém? Ou eu sou realmente só um lixo que está na terra apenas para se decompor?

2 anos

          O dia hoje tornou-se tão apático. Claro que o sol brilhou com a mesma intensidade, mas parece que eu nem percebi. O silêncio predominava sobre o almoço, ouvia-se algumas conversas perdidas sobre doenças, estudos, e aranhas. Nada que realmente fizesse sentido.Lembro-me bem daquele 15 de agosto de 2010. Lembro como segurou minha mão antes de partir, lembro das pessoas no quarto enfadonho de hospital que diziam: “não sinto mais a pulsação”. Partiu num suspiro. Ouço as pessoas dizerem “tua era tão atenciosa com a tua vó”. Eu espero mesmo ter sido, vó. As vezes tu me dizia “tu não conta pras outras netas, que eu gosto de todas, mas tu é a minha preferida” tu não sabe como eu me sentia feliz. Porque posso dizer com toda a certeza que tu é uma das pessoas que mais valem esforços na minha vida. Aquelas pessoas que eu penso “tenho tanta sorte em ter conhecido, em ter tido a chance de conviver por tanto tempo” e olha que poucas vezes me sinto sortuda e são poucas as pessoas que penso a mesma coisa. Ensinou amor ao mundo, ensinou a mim também. Se hoje sou uma pessoa melhor do que já fui, tens grande contribuição nisso. Deixou a mim a saudade, e o desafio de lutar contra ela diariamente. Mas deixou muito mais que isso, deixou lembranças, que eu, sua neta, jamais esquecerei.

Sobra eu

           Sobra eu aqui, pensando. A maior vontade de escrever surge quando estou precisando de um refúgio e escrever nesses casos sempre parece uma boa opção. Escrevendo tenho a impressão de que quilos de angustias são deixadas nas palavras e me sinto bem melhor (na maioria das vezes). Há outros recursos também, tocar guitarra, fazer tricô, olhar um bom filme, ou série, também ajudam, são calmantes que eu escolhi. Mas sobra eu aqui, “batendo as teclas nas mesmas coisas”, como diria minha mãe. O sentimento de sobrar, de ser “trocada” parece me assustar, de certa forma, as vezes parece que todos que gostam de mim estão fingindo sentimento e que na primeira oportunidade vão procurar alguém mais interessante. Acredito muito nisso, até porque as vezes realmente acontece. Tinha muito mais medo disso antigamente, de ser “abandonada”, mas agora vejo que muitas vezes é frescura minha, sei que nunca estarei sozinha, mesmo não tendo ninguém fisicamente ao meu lado.

 

            

Recomeçar

Madrugada. Fria. Todos da casa já se recolheram, porém eu, tento escrever. Uma coisa que gosto. Gosto muito. Estou longe de ser uma boa escritora, mas sei o quanto a escrita me conforta e consola. Entretanto as palavras parecem faltar, é como se eu quisesse gritar por ajuda e ninguém me ouvisse. Mas eu sou só uma menininha, não é mesmo? Quem se importa com que as menininhas sentem, pensam? Elas são confusas, dramáticas, não sabem o que dizem, não conhecem a realidade da vida, não trabalham. Estudam, mas ainda não numa faculdade, elas não tem direito de ter problemas. Sempre essa mesma história. Talvez as menininhas, como eu, sejam tão confusas, porque sabem que um dia serão adultas. Sabem que terão que enfrentar tantas coisas, além das quais já enfrentaram, e sabem o risco que é ser adulto. O risco de perder o encanto pelas pequenas coisas, e se tornar apenas mais uma alienada e escrava do trabalho. Sei que não devo generalizar, pois nem todos os adultos são assim, dessa forma brutal como tenho descrito-os. Mas as menininhas também erram. Elas sentem medo de vez em quanto, porém as menininhas,essas como eu, não precisam de dinheiro para se sentirem melhores, elas só precisam de amor. Esse, que muitos adultos já não acreditam mais.